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A produção de laranja no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro deve registrar uma expressiva recuperação na safra 2025/26, após o segundo pior desempenho em 37 anos. Segundo estimativa divulgada nesta sexta-feira (9) pelo Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), a próxima temporada deve alcançar 314,11 milhões de caixas da fruta — um aumento de 36% em comparação com a safra anterior, que totalizou apenas 230,87 milhões de caixas.
Esse crescimento vem após uma temporada marcada por condições climáticas extremamente adversas e pela severidade do greening, uma doença bacteriana incurável que compromete a produtividade e a qualidade das frutas nos pomares. O ciclo 2024/25 também foi afetado por uma florada atípica, com a quarta emissão floral ocorrendo de maneira tardia e intensa, o que prejudicou o desenvolvimento dos frutos e reduziu o volume final da colheita.
A estimativa de recuperação para o próximo ciclo reacende as expectativas do setor citrícola, especialmente em São Paulo, estado que responde por aproximadamente 80% da produção nacional de laranja e 90% do suco da fruta processado no Brasil. Essa liderança não apenas reafirma a importância da citricultura paulista no cenário nacional, como também posiciona o Brasil como o maior exportador mundial de suco de laranja concentrado.
Condições climáticas mais favoráveis impulsionam recuperação
O Fundecitrus atribui a expectativa de crescimento ao retorno de condições climáticas mais regulares, que favorecem o desenvolvimento das floradas e o enchimento dos frutos. A retomada do regime de chuvas, aliada a temperaturas mais amenas e estáveis, contribuiu para uma maior uniformidade nos estágios fenológicos dos pomares — especialmente importante para o planejamento de colheita e manejo fitossanitário.
Outro fator que pode ter influenciado positivamente a projeção é a adoção de tecnologias de monitoramento e controle das doenças que afetam os laranjais, com destaque para o greening. Embora ainda seja uma ameaça presente, ações de controle e erradicação de plantas contaminadas têm contribuído para minimizar os impactos da doença na produtividade geral.
Setor se prepara para novo ciclo com otimismo moderado
Apesar da previsão otimista para a safra 2025/26, o setor mantém uma postura cautelosa. A volatilidade climática tem se mostrado um desafio recorrente para a citricultura nos últimos anos, exigindo planejamento estratégico e investimentos em resiliência produtiva. Os produtores estão atentos à possibilidade de novas ondas de calor, estiagens prolongadas ou desequilíbrios no regime hídrico, fatores que podem comprometer o rendimento final mesmo em safras inicialmente promissoras.
Além disso, o cenário global do mercado de suco de laranja exige atenção. A demanda internacional tem se mantido relativamente estável, mas o aumento de concorrência de outros países produtores e as mudanças nos hábitos de consumo, com a redução da ingestão de bebidas açucaradas em algumas regiões, representam desafios para o escoamento da produção e para a rentabilidade do setor.
Importância econômica da citricultura paulista
A citricultura é uma das atividades agrícolas mais relevantes para a economia paulista, não apenas pelo volume produzido, mas também pela cadeia de valor que mobiliza. Desde os viveiros de mudas, passando pelo cultivo, colheita, transporte e processamento industrial, até as exportações, o setor gera milhares de empregos diretos e indiretos.
Segundo dados do Fundecitrus, o cinturão citrícola brasileiro compreende aproximadamente 400 municípios e abriga mais de 11 mil produtores de laranja. A maior parte da produção é destinada à indústria de suco concentrado congelado, produto que tem como principais destinos os mercados da União Europeia e dos Estados Unidos.
Perspectivas para 2025/26
Com a projeção de 314,1 milhões de caixas, a citricultura brasileira busca consolidar sua recuperação e manter a competitividade no mercado global. O avanço da safra dependerá, no entanto, da continuidade de boas condições climáticas e da efetividade no controle de pragas e doenças.
A expectativa é de que, com o apoio de políticas públicas, inovação tecnológica e planejamento setorial, a cadeia da laranja possa retomar um ciclo de crescimento sustentável, beneficiando produtores, indústrias e consumidores. O desempenho da safra 2025/26 será um termômetro crucial para avaliar o grau de resiliência e adaptação da citricultura brasileira frente aos desafios climáticos e sanitários da atualidade.