Compartilhar
O mercado físico do boi gordo encerrou a última semana em ritmo lento, com o fluxo de negociações inexpressivo e diversas indústrias frigoríficas ausentes das compras. Negociações acima de R$ 335/@ tornaram-se exceção, evidenciando um cenário de alerta para o setor pecuário. Segundo analistas, a tendência é de pressão de baixa sobre o preço da arroba nos próximos dias, impulsionada pela melhora das escalas de abate e pela expectativa de aumento da oferta de animais terminados a partir da segunda quinzena de maio.
De acordo com a Safras & Mercado, a perspectiva é que o preço do boi gordo continue em queda à medida que mais boiadas forem ofertadas. “O maior potencial de oferta durante a safra do boi gordo tende a pressionar ainda mais o mercado”, afirma o analista da consultoria. A pressão baixista ficou ainda mais evidente na semana após o feriado, com a fragilidade dos preços se intensificando.
Felipe Fabbri, zootecnista e analista da Scot Consultoria, atribui a atual desvalorização ao aumento da disponibilidade de animais para abate e à lentidão no escoamento da carne no mercado interno. Fabbri destaca que a tão esperada fase de alta do ciclo pecuário deve ocorrer apenas no segundo semestre, impulsionada pela redução no abate de fêmeas gordas, o que poderá aliviar a pressão sobre as cotações.
Preço do boi gordo recua nas principais praças
As principais regiões produtoras registraram queda nos preços do boi gordo. Em São Paulo, a arroba caiu R$ 5, fechando a sexta-feira (25/4) cotada a R$ 325 no prazo. O “boi-China”, destinado à exportação, manteve ágio de R$ 5/@, sendo comercializado a R$ 330/@. Em Goiás, a média ficou em R$ 309,46/@, enquanto Minas Gerais anotou R$ 319,41/@. Mato Grosso do Sul registrou R$ 323,18/@, e Mato Grosso, R$ 326,16/@.
Negócios acima de R$ 335/@ passaram a ser uma raridade, restritos principalmente a lotes premium, reforçando a tendência de enfraquecimento nos preços.
Produção e exportações de carne bovina em alta
Apesar do cenário interno de queda no preço da arroba, o setor de exportações de carne bovina apresenta crescimento. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) revisou para cima a estimativa da produção brasileira, de 11,8 milhões para 11,9 milhões de toneladas de equivalente-carcaça. As exportações também foram ajustadas de 3,6 milhões para 3,8 milhões de toneladas.
No entanto, essa expansão não tem sido suficiente para reverter a pressão negativa sobre o mercado físico do boi no Brasil, dado o elevado volume de oferta interna, o que mantém o mercado doméstico em alerta.
Expectativas para maio
Historicamente, o mês de maio apresenta recuo nos preços do boi gordo em comparação a abril. Desde 2010, o levantamento da Scot Consultoria mostra que a arroba registra queda nesse período. Para 2025, a expectativa é de que o recuo continue, embora de forma menos acentuada do que nos anos anteriores.
A principal preocupação está na maior entrada de animais no mercado, impulsionada pela deterioração das pastagens durante o outono. Esse movimento poderá reforçar ainda mais a pressão de baixa sobre o preço da arroba.
No mercado futuro, o contrato de maio/25 encerrou o pregão de quinta-feira (23/4) cotado a R$ 315,55/@, uma queda de 3,7% em relação ao indicador da Scot e de 3% frente ao indicador da B3 (Datagro).
Atacado segue firme, mas com vendas lentas
Apesar do recuo nos preços do mercado físico do boi, o mercado atacadista de carne bovina permanece firme, sustentado pela expectativa de aumento da demanda com a proximidade do Dia das Mães.
Atualmente, os preços no atacado são:
• Quarto traseiro: R$ 25,00/kg
• Quarto dianteiro: R$ 20,50/kg
• Ponta de agulha: R$ 18,50/kg
Essa firmeza no atacado pode oferecer algum suporte aos preços da arroba no curto prazo, embora o ritmo lento nas vendas ainda preocupe o setor.
Câmbio ajuda a aliviar pressões
O dólar comercial fechou a sexta-feira (25/4) com leve baixa de 0,07%, cotado a R$ 5,6883 para venda e R$ 5,6863 para compra. Na semana, a moeda acumulou uma queda de 2,04%, trazendo certo alívio para os custos de importação e fortalecendo a competitividade da carne brasileira no mercado externo.
Em um cenário de aumento da oferta e fragilidade no consumo interno, o desempenho das exportações de carne bovina e a variação cambial serão fundamentais para definir os rumos do preço da arroba do boi gordo nas próximas semanas.